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Sexo virtual x prazer real

Entenda prós e contras da prática sexual feita pela internet

Atualizado em

A prática da sexualidade humana é sempre muito influenciada pelos aspectos socioculturais e cada pessoa é tocada em sua particularidade, em seu íntimo, pelo meio em que vive. Por exemplo, há algum tempo a homossexualidade não era tida como uma possível orientação sexual, mas sim como uma patologia. Como os valores sociais das culturas são dinâmicos, avançam e registram alterações de comportamento na humanidade, esses mesmos valores também determinam as alterações nas condutas sexuais. Em outras palavras, as mudanças nos valores sociais também influenciam a concepção e a prática da sexualidade.

Nossa sociedade vive hoje, com certeza, ciberneticamente. Pouquíssimas são as pessoas que conseguem viver atualmente sem a influência da tecnologia e da internet em suas vidas. No âmbito da sexualidade, o sexo virtual já pode ser considerado uma possibilidade de prática sexual, com uma legião de adeptos, não cabendo aqui qualquer julgamento, mas apenas uma constatação.

Eis aqui duas temáticas controversas: sexo e tecnologia. Um passeio pela história nos remete a marcas como preconceitos, tabus e, talvez por desconhecimento, certa distância das inúmeras transformações que estas áreas vêm sofrendo ao longo dos séculos. Mais ainda quando conectamos os temas, que dão origem ao que podemos chamar de cybersexo. O sexo praticado pela internet tem provocado muitas polêmicas, já que a tecnologia virtual – além de abrir um grande portal para reflexões e debates sobre este e outros assuntos contestáveis e até proibidos – possibilitou essa modalidade de prática sexual conhecida também como sexo virtual.

Há ainda algumas variáveis cibernéticas, como sexo virtual grupal, voyeurismo virtual, entre outros. “Clicar” já se tornou um dos verbos mais pronunciados e um simples clique pode nos fazer navegar por mares de informações, objetos de desejos e de relações entre pessoas. Não podemos esquecer a pornografia, que se apropriou desse recurso tecnológico para expandir seus limites.

Mas com o surgimento do cybersexo, também vieram questões como:

  1. O sexo virtual pode substituir o sexo real?
  2. O sexo virtual pode proporcionar prazer real?
  3. Quais os aspectos positivos e negativos dessa prática?
  4. Namorar pela internet faz bem?

Neste tempo em que o lançamento de um site de relacionamentos no mercado de valores americano gerou espaço na mídia mundial por várias semanas (dados os valores das negociações), refletir sobre estas e outras questões relativas às relações virtuais entre as pessoas é, no mínimo, uma interessante temática pós-moderna.

As redes de relacionamentos têm se tornado pontos de encontros sociais e amorosos, além, é claro, da multiplicação cada vez mais acelerada dos canais de Internet Relay Chat (IRC), que consistem de um meio de comunicação utilizado na internet, que proporciona encontros, paquera, e até práticas sexuais-amorosas e virtuais. Ele é utilizado basicamente como bate-papo (chat) e troca de arquivos, permitindo a conversa em grupo ou privada.

O computador passa a ser o cupido que irá disparar clicadas, de acordo com as preferências e intenções dos navegantes da rede. Através dele, as pessoas conseguem estabelecer relações com gente conhecida ou estranha, mas que procuram nesse contato virtual um vínculo, mesmo que por poucos instantes. Os sites de relacionamentos surgem e se inovam todos os dias e as salas de bate-papo tornaram-se um lugar de visitação contínua. “Estar plugado” virou sinônimo de oportunidade e de prazer. Nesse meio, o sexo virtual passou a ter outro significado na vida das pessoas, talvez até ocupando mais tempo do que nas relações sexuais reais, em que há o contato físico dos parceiros e trocas sensoriais mais intensas. Do ponto de vista técnico, o ato sexual virtual não deixa de ser um prazer solitário, muito próximo da masturbação.

E o prazer, é real?

Basicamente, as experiências sexuais virtuais podem acontecer através de uma fantasia ou história criada pelas pessoas envolvidas. Neste caso, o sexo virtual ocorre a partir da narrativa da imaginação das pessoas e pode terminar com o prazer solitário, muito próximo da masturbação. Afinal, é feito por estímulos do imaginário, em que a pessoa pensa em alguém dentro de uma situação sensual.

Por sua vez, há relatos de praticantes dessa modalidade sexual que indicam também a descrição de experiências vividas na realidade, com informações da intimidade da pessoa – como se despe, como toma banho ou como se deita, por exemplo – ou de algum fato vivenciado, como uma relação sexual diferente ou incomum, sempre carregada de certa dose de fantasia. Este caso já se aproxima mais do voyeurismo, como uma observação imaginativa.

Há ainda a possibilidade de praticar o sexo virtual com a descrição da situação real, presente. Nessa modalidade, os praticantes utilizam não somente o teclado, mas a visão, através da observação direta do parceiro por uma pequena câmera (webcam) e recursos auditivos, como microfones e fones de ouvidos, muito comum nos computadores-mediadores do ato. Em geral, os simpatizantes dessa modalidade vão insinuando ações ou convidando o parceiro a exibir o que gostariam de ver ou a falar o que gostariam de ouvir, para que satisfaçam seus apetites sexuais. Neste caso, a masturbação é online e pode ser trocada visual e auditivamente com o parceiro.

Em todas as maneiras acima, os elementos e cenários criados são geralmente contados verbalmente, visualizados e ouvidos ou, ainda, digitados com requintes de detalhes – o que os torna mais sedutores e envolventes. Isto explica, inclusive, o surgimento de um novo mercado e serviço que vem surgindo, como a versão mais inovadora e moderna da prostituição: o sexo virtual pago.

Não podemos esquecer também que o lado erótico do sexo virtual, muito reforçado pela possibilidade de exposição visual, tem atraído indivíduos com intenções não tão benéficas e, por vezes, até criminosas, gerando um risco potencial de aliciamento e envolvimento em práticas nada éticas ou saudáveis.

Assim, se por um lado essa postura pode ser um fator complementar para agregar estímulos positivos ao relacionamento com o parceiro real, como a procura por mais emoção de modo a ajudar a apimentar a relação, por outro pode causar desconforto e até sofrimento, se fugir ao controle.

Vantagens e desvantagens do sexo virtual

Recentemente, uma pesquisa feita pela Universidade de Harvard, nos EUA, analisou os efeitos que o acesso às redes sociais causa ao cérebro humano. O estudo concluiu que as experiências agradáveis que os internautas têm quando navegam por esses sites podem elevar o nível de oxitocina, em média, em até 45%. A oxitocina é produzida pelo cérebro em situações de intimidade e proximidade, como abraços e troca de carinhos, razão pela qual ela é comumente chamada de “substância do amor”. Esse hormônio é responsável pelo prazer e faz com que as pessoas se sintam relaxadas, aconchegadas e amadas. Por isso, o nível desse hormônio no organismo pode influenciar no humor e até na tomada de decisões.

A pesquisa ressalta, ainda, que o poder da internet de ativar a produção de oxitocina no cérebro tem um lado bom, pois como está relacionada aos padrões sexuais, ela facilita as interações positivas, provoca a sensação de prazer e pode até ajudar uma pessoa tímida a se sentir mais extrovertida. No entanto, pode se tornar prejudicial quando utilizada em excesso nas chamadas redes de mídia social, podendo reforçar o isolamento daquelas pessoas com dificuldades de adaptabilidade à vida social real.

Portanto, o sexo virtual pode ser considerado uma boa opção quando se apresenta como a melhor oportunidade de interação entre as pessoas. Mas como qualquer outra atividade, ela pode fugir ao controle e se tornar um vício: passa a ser nocivo e começa a interferir na rotina diária, a ponto de prejudicar atividades necessárias ao convívio e ao bem-estar da pessoa.

Além de ativar a produção de oxitocina, essa modalidade de expressão sexual permite que os parceiros soltem a imaginação, o que faz com que muitos casais alimentem essa prática como um modo de apimentar a relação real. Se a distância não permite encontros a toda hora, esse tipo de interação – onde estímulos adicionais até então não explorados são experimentados – pode excitar o casal para quando o momento chegar.

Se não há a possibilidade sensorial do toque, que é um dos mais excitantes capítulos da prática sexual, há a visão e a audição que aguçam os desejos e encantos. Fantasias são expressas através de palavras e sussurros, sem o menor acanhamento.

Para muitos, o cybersexo é considerado atualmente, uma das mais livres formas de expressão sexual. A prática virtual possibilita, inclusive, que as pessoas escondam sua verdadeira identidade. Esta liberdade permite que deem vazão ao erotismo explícito, ativando seus desejos e fantasias mais picantes. Este fato indica, ainda, uma possibilidade de muitos apreciadores conseguirem satisfazer-se sem cobrança ou longe da ansiedade apavorante que ronda a performance sexual.

Do ponto de vista da saúde sexual, lembramos que o sexo virtual é uma das raras atividades sexuais que oferecem, é claro, total proteção em relação às doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS, além da gravidez indesejada. São tranquilidades como estas que atraem cada vez mais adeptos.

Mesmo assim, não custa lembrar que somos seres de relação, isto é, existimos no outro e na relação que com ele estabelecemos. Mesmo no anonimato ou escondidos em codinomes encantadoramente sedutores, corremos um risco real: de nos envolvermos emocional e afetivamente, nos tornando dependentes do nosso parceiro virtual habitual para voarmos para as estrelas. Esta ameaça virtual pode tanto gerar expectativa quanto frustração. É preciso estar preparado!

Antonieta Mazon

Antonieta Mazon

Química, pedagoga, mestre em Educação, pós-graduada em Sexualidade e Psicologia, e orientadora sexual. Faz palestras e escreve artigos sobre educação, família e sexualidade.

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