O que estou sentindo é normal? Como entender sua saúde mental
O que estou sentindo é normal? Essa pergunta não tem uma resposta simples, mas é importante analisar o contexto quando ela aparecer
Quantas vezes você já se pegou pensando: “Isso que estou sentindo é normal?” ou “Será que todo mundo passa por isso?”.
Em um mundo onde as redes sociais vendem uma versão filtrada da realidade, é fácil acreditar que todo mundo está equilibrado, feliz e produtivo – menos você.
Mas a verdade é que a ideia de “normalidade” é muito mais complexa e subjetiva do que parece.
O que significa ser “normal”?
Georges Canguilhem, no livro “O Normal e o Patológico“, nos mostra que normalidade não é uma condição fixa ou absoluta, mas, sim, um conceito dinâmico.
O que é considerado normal depende do contexto, das experiências individuais e das exigências do meio em que estamos inseridos.
Para Canguilhem, o normal não é apenas o que é estatisticamente comum, mas aquilo que permite ao indivíduo adaptar-se e funcionar dentro do seu ambiente.
Dessa forma, ser normal não significa estar livre de sofrimento ou nunca enfrentar dificuldades, mas, sim, conseguir responder e se ajustar a diferentes situações da vida.
O que estou sentindo é normal?
Essa pergunta não tem uma resposta simples, pois o que para uma pessoa pode ser normal, para outra pode ser visto como patológico, dependendo da forma como isso afeta seu bem-estar e funcionamento.
Por exemplo, sentir tristeza após uma perda é uma reação natural. No entanto, se essa tristeza se torna incapacitante e impede a pessoa de realizar suas atividades diárias por um longo período, pode indicar um estado patológico que necessita de atenção.
Ou seja, não é o sintoma isolado que define o que é normal ou não, mas sim sua duração, intensidade e impacto na vida da pessoa.
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A normalidade como construção social
É preciso entender que o que é considerado “normal” varia ao longo do tempo e das culturas. Algo que era impensável há algumas décadas pode ser amplamente aceito hoje, e vice-versa.
Nossa ideia de normalidade também é moldada pelo ambiente em que crescemos, pela educação que recebemos e pelas experiências que vivemos. Isso significa que “ser normal” é mais uma questão de percepção do que uma regra fixa.
Se olharmos para o passado recente, veremos que muitas coisas que hoje consideramos absurdas eram uma vez “normais”. Por exemplo:
- crianças trabalharem em fábricas
- fumar dentro de aviões e hospitais
- mulheres não terem direito ao voto
- transtornos psiquiátricos eram vistos como manifestações de fraqueza moral ou até mesmo possessões demoníacas.
- pessoas com depressão, ansiedade ou esquizofrenia eram trancadas em manicômios sem qualquer tratamento humanizado
Hoje, compreendemos que saúde mental é parte essencial da saúde como um todo, e que transtornos emocionais não são falha de caráter, mas, sim, condições que precisam ser tratadas com acolhimento e ciência.
Os preconceitos e as crenças enraizadas
Se por um lado avançamos, por outro, ainda carregamos preconceitos e crenças enraizadas. Muitas pessoas ainda se perguntam se o que sentem é “normal” porque cresceram em um ambiente onde emoções eram invalidadas.
Afinal, quem nunca ouviu:
- “engole o choro”
- “tem gente em situação pior que a sua”
O problema dessa lógica é que ela reforça a ideia de que sentir é um problema, quando, na verdade, o que define se algo precisa de atenção não é se ele é comum ou não, mas o impacto que tem na sua vida.
Se um dia olharmos para trás, o que será que veremos como absurdo?
- A forma como normalizamos o esgotamento no trabalho?
- O quanto romantizamos a hiperprodutividade e a ideia de que sentir ansiedade o tempo todo é \”só um sinal de que você se importa\”?
- A pressão social para que estejamos sempre bem, sorrindo nas redes sociais, enquanto por dentro mal conseguimos respirar?
Assim, quando nos perguntamos “o que estou sentindo é normal?”, talvez a resposta mais honesta seja: normal segundo quem e em qual época?
O que importa não é encaixar-se em um padrão externo, mas sim entender como nossas emoções e comportamentos impactam nossa vida e buscar formas mais saudáveis de lidar com eles.
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Todo mundo tem suas lutas internas
Muitas vezes, nos comparamos com outras pessoas sem perceber que todos enfrentam batalhas internas, mesmo que nem sempre sejam visíveis.
Um dos grandes mitos sobre a saúde mental é a crença de que apenas pessoas com grandes traumas ou transtornos graves enfrentam dificuldades emocionais.
A verdade é que cada indivíduo tem seus próprios desafios, suas dores e inseguranças, ainda que tente escondê-los sob uma aparência de normalidade.
Se você já sentiu ansiedade ao tomar uma decisão importante, já se questionou sobre seu próprio valor ou teve dias em que tudo parecia sem sentido, saiba que isso faz parte da experiência humana.
O sofrimento e a incerteza são aspectos naturais da vida e não significam, necessariamente, que algo está errado com você. O que realmente importa não é a ausência de dificuldades, mas sim como lidamos com elas.
Muitas pessoas desenvolvem estratégias para enfrentar seus problemas, algumas mais saudáveis do que outras. Algumas se dedicam ao autocuidado e ao desenvolvimento pessoal, enquanto outras buscam distrações ou evitam confrontar suas emoções.
Entretanto, ignorar sentimentos difíceis não os faz desaparecer – pelo contrário, pode intensificá-los ao longo do tempo.
O reconhecimento de que todos têm suas lutas internas ajuda a desmistificar a ideia de normalidade absoluta. Isso nos leva a um questionamento mais produtivo:
- “Estou lidando bem com o que estou sentindo?”
A busca por equilíbrio emocional não significa evitar qualquer tipo de sofrimento, mas sim aprender a enfrentá-lo de forma mais saudável e construtiva.
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Saúde mental não é ausência de problemas
Muitas pessoas acreditam que ser emocionalmente saudável significa nunca sentir ansiedade, tristeza ou frustração. Mas a verdadeira saúde mental está na capacidade de lidar com esses sentimentos, sem que eles dominem completamente sua vida.
Faça esse exercício:
- Imagine que você está em um barco.
- Emoções como medo, tristeza e raiva são como ondas – elas vão e vêm.
- Em dias de tempestade, podem até balançar o barco com mais intensidade.
- No entanto, o que define a saúde mental é a capacidade de segurar o leme e continuar navegando, mesmo quando as águas estão agitadas.
Quando se preocupar? 6 sinais de alerta
Embora sentimentos como ansiedade e tristeza sejam normais, existem momentos em que vale a pena buscar ajuda profissional.
Nesse sentido, alguns sinais de alerta incluem:
- Sentir-se constantemente sobrecarregado ou incapaz de lidar com as situações do dia a dia;
- Perder o interesse por coisas que antes te davam prazer;
- Ter dificuldades para dormir ou comer de forma equilibrada;
- Sentir uma tristeza profunda e persistente;
- Se isolar socialmente;
- Ter pensamentos autodestrutivos ou sentir que a vida perdeu o sentido.
Se você percebeu que essas questões estão impactando sua qualidade de vida, buscar ajuda de um profissional de saúde mental pode ser um passo essencial para recuperar o equilíbrio.
Em busca de uma nova pergunta
Talvez a questão mais importante não seja se você é “normal” ou se “o que está sentindo é normal”, mas sim:
- “Estou lidando da melhor forma possível com o que sinto?”.
A saúde mental não é um destino, mas um processo contínuo de autoconhecimento e cuidado. E, dentro desse processo, cada um tem sua própria jornada – sem regras fixas, sem comparativos injustos, apenas com a busca pelo bem-estar que faz sentido para você.
Se você está nessa jornada, saiba que não está sozinho. E se precisar de ajuda, ela está disponível. O primeiro passo é permitir-se ser humano, com tudo o que isso implica.