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Gato preto e a crença de má sorte

Entenda como surgiu o preconceito atrelado ao gato preto e veja três histórias lindas de quem conviveu com esses bichinhos

Atualizado em

Ainda rola muito preconceito! Mas o gato preto é um animal com melanismo. Ou seja, com um excesso de pigmentação de cor escura (melanina) na pele ou nos pelos. Apenas isso.

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Geneticamente, o gato preto é originário da raça Bambay e, como a maioria dos animais domesticados, está bem adaptado à convivência com seres humanos. Eles são carinhosos, curiosos, enigmáticos, companheiros, brincalhões e comunicativos.

Amados e rejeitados, os gatinhos pretos passaram de sagrados à demoníacos e, ainda hoje, enfrentam essa dicotomia em diversas culturas, incluindo no Brasil. Em seguida, conheça mais sobre a história do gato preto e como combater o preconceito que ainda existe.

Os gatos e os humanos: crenças defasadas

A relação entre humanos e gatos é antiga. Há aproximadamente 9.500 anos, ela começou na ilha de Chipre, quase que simultaneamente ao surgimento da agricultura. Os alimentos se tornaram mais abundantes, o que aumentou a população de roedores.

A aproximação se deu de forma espontânea, pois os gatos caçavam esses animais das plantações, e os humanos não os importunavam. Assim, humanos e gatos coexistiam pacificamente.

Com o tempo e a maior interferência humana, os gatos passaram a ser selecionados por características específicas de modo a torná-los mais receptivos e amigáveis aos humanos.

Há aproximadamente 5000 anos, no Egito Antigo, observou-se uma relação muito mais estreita de convivência. Na época, os gatos eram considerados sagrados. E a punição para quem os maltratasse era a morte.

Eles eram tão respeitados, que, ao morrer, também passavam pelo processo de mumificação. A deusa Bastet, representada por uma mulher com cabeça de gato, era a deusa da fertilidade e da felicidade e bastante reverenciada.

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Início da caça aos gatos pretos

Essa relação permaneceu amigável até chegar a Idade Média, no século XI. Nesse período, se disseminou a nefasta associação entre o gato e o mal, especialmente os pretos.

Com a caça às bruxas, começou também a caça aos gatos pretos, fortalecendo as crenças e aumentando a repulsa em relação eles, interferência que sobrevive até hoje entre as pessoas menos esclarecidas.

O gato preto era visto como as próprias bruxas metamorfoseadas ou como animais possuídos por espíritos malignos. Por isso, passaram a ser perseguidos.

O preconceito e a maldade que se vê ainda hoje contra esses animais mostra a força destrutiva de um boato que, em verdade, se originou da necessidade de se encontrar culpados para os problemas da sociedade.

As bruxas e os gatos foram os escolhidos. A sociedade divulgava e validava a destruição dessas vidas naquele tempo. Após esse período sombrio, houve um novo incentivo no convívio entre humanos e gatos. Ainda assim, as “fake news” da Idade das Trevas nunca foram totalmente superadas.

Gato preto: misticismo e inspiração

Tanto crenças passadas quanto contemporâneas ainda mantêm o misticismo em torno do gato preto. Ainda é possível encontrar pessoas que julguem os gatos como:

  • canais para a espiritualidade;
  • condutores de espíritos ao mundo dos mortos;
  • os próprios espíritos reencarnados;
  • guardiões e protetores dos lugares e das pessoas com quem convivem;
  • conexão entre o mundo invisível e o mundo visível;
  • capazes de enxergar outras dimensões, outros planos espirituais, fantasmas e espíritos.

Independente das crenças e superstições, a verdade é que os gatos são seres sencientes cujas vidas têm imenso valor para eles. O mínimo que podemos fazer é respeitá-los e não fazer-lhes mal.

Desde a aproximação entre gatos e nós, humanos, eles sempre nos inspiraram e fascinaram, a ver pela quantidade de obras artísticas da literatura, artes plásticas, música, cinema, fotografia e até mesmo estátuas para homenageá-los:

  • O Gato-de-botas de Charles Perrault;
  • O Gato Preto de Edgar Allan Poe;
  • Negro Gato interpretada por Roberto Carlos;
  • Dueto dos Gatos de Rossini;
  • A Mulher-Gato da DC Comics.

Esses são exemplos do alcance que esses animais tiveram na criatividade e no imaginário humano. Precisamos agradecer.

Enquanto símbolo, estão profundamente ligados à sensualidade, à elegância, à esperteza, ao furtivo, ao oculto.

Os gatos no Brasil da atualidade

No Brasil, junto à luta contra a superstição, precisamos combater a superpopulação de gatos. Uma condição, aliás, criada por nós.

Pode observar: os animais selvagens não se reproduzem descontroladamente. Há um controle populacional intrínseco, um equilíbrio natural sustentado pelos animais que não perderam seus instintos. Já os que foram domesticados tornaram-se dependentes e reféns da boa vontade e da boa índole humanas.

ONGs, abrigos, e protetores se esforçam muito. No entanto, os níveis de abandono e de pessoas que alimentam gatos nas ruas sem cuidar do aspecto reprodutivo criam um ambiente propício para que se multipliquem indefinidamente.

Assim, o trabalho preventivo fica quase que impossível. Além disso, também são frequentes os abandonos por temperamento, idade ou doença, momentos em que mais precisam de cuidados.

Preconceito até na adoção

Alguns animais conseguem socorro, são castrados e até mesmo encontram um lar, mas inúmeros outros não têm a mesma sorte.

Nesse cenário, o gato preto é preterido em função de sua cor e todas as projeções ultrapassadas que ainda vigoram em nossa sociedade. E isso os torna os mais indesejados para adoção.

Notem que migramos de uma relação saudável, amigável e livre, para uma relação de dominação em que os deixamos à mercê de nossas decisões e nossos humores. Criamos uma profunda dependência emocional desses animais cuja companhia desejamos para aplacar necessidades nossas, sem considerar as deles.

Nesse novo modelo de relação que impusemos, os gatos compartilham sua fofura e presença conosco, mas ficam totalmente vulneráveis sem nossa atuação. Afinal, não só perderam suas conexões mais instintivas como precisaram se adaptar à nossa artificialidade.

Hoje, os gatos compartilham suas vidas conosco para terem segurança, alimento, cuidado e afeto. No entanto, assim como há quem os ame legitimamente e se dedique a protegê-los, também há quem foi contaminado pelas “fake news” medievais e, por isso, rejeitam, torturam e matam como se nada fossem.

Ainda que as pessoas estejam mais conscientes e estabeleçam relações mais cuidadosas com esses animais, o trabalho de neutralização do preconceito e da violência contra eles ainda é longo.

Gato preto: uma história pessoal de amor e sorte

Três gatos pretos cruzaram o meu caminho e você vai ver que não tem por que fugir deles!

Ciça

A primeira que adotei, aos 12 anos de idade, foi a Ciça, uma gatinha preta bem miudinha, extremamente carinhosa, paciente e brincalhona que vivia solta no quintal e tinha acesso à rua, mas sempre estava por perto e dormia comigo.

Ela foi o primeiro animal que eu tutelei na vida. Na época eu não tinha muito entendimento sobre gatos e vivi com ela algumas experiências tristes, como uma gravidez malsucedida que pôs sua vida em risco e ocasionou a perda de todos os filhotes e o dia em que ela sumiu e não retornou nunca mais.

Foram situações de preocupação e tristeza que mudaram algumas percepções que, anos mais tarde, fizeram mais sentido quando conheci o Thor.

Thor

Ele ainda era um bebezinho orelhudo que cabia na palma da mão e miava loucamente. Hoje, me colocando no lugar dele, deve ter sido mesmo assustador.

Dessa vez, com a lição aprendida, ele foi castrado cedo. Seu tamanho diminuto durou pouco tempo, pois ele cresceu rápido. Inicialmente, não éramos tão amigos. Ele era muito espoleta, quebrava coisas e agarrava nossos pés por baixo da mesa. Com o tempo, foi se acalmando.

Com um ano, o Thor teve uma infecção urinária que mudou nossa relação. Eu me dediquei a ele até que se recuperasse, levando ao veterinário, dando remédios e carinho.

Percebi como ele era importante para mim, de uma forma que nunca tinha sentido. Foi nesse período que estreitamos nossos laços.

Ele acompanhou um enorme período da minha vida, de 2001 a 2018, e viveu comigo todas as grandes reviravoltas, acontecimentos, mudança de casa, conheceu namorados, amigas e amigos.

Ele estava sempre lá. Foi um grande companheiro, amoroso, sincero, sensível, dengoso e querido que tive o imenso prazer de contemplar e amar.

Em Julho de 2018 ele se foi de maneira repentina e violenta, deixando um enorme vazio. Essa partida, muito traumática para mim, trouxe um pano de fundo de tristeza.

Afinal, é muito dolorido olhar para todos os lugares que ele ocupava e que agora não mais contam com sua terna presença. Ele era único e estará para sempre no meu coração, trazendo muita saudade. Inclusive me faz lembrar de Ciça, de quem jamais pude me despedir.

Ele me ensinou tantas coisas sobre relações, amor, paciência e sensibilidade que jamais esquecerei. Com ele, aprendi a reverenciar o valor singular da vida dos animais. Ao contrário do que gostamos de acreditar, não somos melhores do que eles. Neles reside uma pureza e uma nobreza que não nos é típica.

Um gatinho, um colo e minha vó

A terceira história ocorreu em uma ocasião muito peculiar: o velório de minha avó Maria. Cerca de um mês antes de sua morte, quando ela estava na UTI, ela me contou que sonhou com o Thor (o meu gato preto). Ele a olhava atentamente de um local mais alto, e ela o chamava.

No dia em que ela partiu, eu fiquei arrasada, inconsolável de tristeza. Após 2 meses cuidando dela todos os dias, sua partida foi, ao mesmo tempo, o alívio e descanso de que ela precisava, mas foi também a perda de uma pessoa muito importante para mim.

Por conta destas sincronicidades da vida, eu estava sentada em uma cadeira cumprimentando pessoas que chegavam para se despedir dela quando, subitamente, um gatinho preto com coleirinha brilhante entrou na sala.

Imediatamente, meu olhar se fixou nele que, tranquilo e certeiro, veio em minha direção subiu em minha cadeira, me deu um afago e se aninhou ao meu lado.

Assim, como se me conhecesse há tempos. Parecia saber do que eu precisava. Parecia compreender que sua presença faria toda a diferença para mim naquele momento.

Ele ficou comigo até o sepultamento. Eu fiquei perplexa com a forma que ele mudou meu foco, me deu certa esperança, acolheu meu choro e depois, simplesmente, foi embora. Obviamente não falamos a mesma língua e nem trocamos nenhuma palavra, mas foi como se tivéssemos conversado por horas.

O valor da vida

Contei essas histórias, pois acho que elas ilustram um fato decisivo na maneira como percebemos os animais. Independente de qualquer crença ou ciência que gire em torno dos gatos pretos, de uma coisa tenho absoluta certeza: eles são seres sensíveis que prezam por suas vidas, por sua integridade física e psicológica e por sua liberdade.

São seres únicos, com suas personalidades, manias e naturezas. Por isso, merecem, no mínimo, como todo ser senciente, o nosso devido respeito.

Ninguém precisa gostar de gato preto, ou rajado ou de qualquer outro animal de qualquer espécie, mas, definitivamente, precisamos compreender que suas vidas valem muito mais do que atribuímos a elas.

Se você aprecia esses animais e deseja ajudá-los, adote um amigo e ofereça a ele uma vida digna. Gatos vivem de 15 a 20 anos em um ambiente protegido e é preciso estar ciente de que seu comprometimento deverá ser por toda a vida dele.

Se você concluir que não tem condições de oferecer a ele o necessário, colabore com as organizações que se propõe a protegê-los. E, principalmente, conscientize amigos, família e conhecidos para que possam reciclar de forma sistemática essa mentalidade, ainda contaminada, em relação a eles.

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Thaís Khoury

Thaís Khoury

É psicóloga clínica e utiliza a interpretação dos sonhos, a calatonia e a expressão criativa em seus atendimentos. Também é vegana e fundadora do Veganíssimo, empresa que produz alimentos 100% vegetais.

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