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Da natureza feminina à maternidade real

“A disposição física da mulher maravilha é uma ilusão”. Veja depoimento de Flavia Wenceslau

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Percebo que a natureza feminina é um caminho de descoberta para uma vida inteira. E, assim como os próprios dias, ela tem seu mistério na fragilidade de não sabermos se amanhã fará sol ou cairá um toró. Somos essa falta de convicção absoluta das nossas reações, o que pode nos ensinar, no mínimo, a ter calma com a maternidade.

Você é acionada de forma intuitiva, pois, apesar do que for, seu filho está te vendo, e precisa que você seja razoavelmente capaz de lhe transmitir a segurança, paz e o equilíbrio da sua natureza feminina, cuja rotina é um ciclo completamente mutável, todo mês, toda lua, toda gravidez, toda perda, todo nascimento, toda mudança de casa, de emprego, de cabelo.

Somos assim. É mais leve quando admito que ainda não cheguei nesse equilíbrio que, às vezes, na vida de outras mulheres, parece tão simples. Assim como algumas pessoas devem achar simples para mim, que sou mãe, cantora, dona de casa, divorciada. A maioria do tempo e da rotina das crianças é comigo, o pai delas trabalha em outra cidade e fica com elas nos finais de semana. Percebo que a qualidade dessa presença paterna, mesmo que seja só aos sábados e domingos, influencia muito na rotina dos outros dias. O fim de semana de qualidade com o pai faz com que as crianças durmam bem no domingo e acordem cedo na segunda para ir à escola.

Maternidade ideal e maternidade real

A minha presença a semana inteira não significa necessariamente o equilíbrio e a paz das crianças no desenvolvimento delas. É importante que eu busque o equilíbrio para esse feminino à medida que o conheço. É importante que eu compreenda que pode não ser uma meta atingível o tempo todo, mas que prestar atenção nisto e tornar prioridade o que é prioridade me auxilia no sentimento do dever cumprido.

A sensação de estar dando pouco de si ao trabalho, às amizades ou aos filhos é natural, porque é da natureza feminina querer o materno em tudo, fazer direito tudo, e achar que só você dá conta cem por cento de suas tarefas como mãe, mulher e profissional. É preciso decidir parar de sofrer por muitas coisas que apenas o desenrolar do caminho ensina. Se acolher, ter calma consigo, evitar comparação, seja qual for. Evitar metas, obrigações de alta produtividade na madrugada ou no pedaço da manhã que sobra quando você chega de um trânsito horrível e já é hora de sair de novo. É preciso otimizar seu tempo da forma que puder e saber que a disposição física da mulher maravilha é uma ilusão.

Maternidade real e o equilíbrio do feminino

A maternidade sempre foi real, e sempre será. Uma criança sair da sua barriga, crescer, ter a própria personalidade, te fazer entrar em contato com o caos de dentro e ao mesmo tempo com o amor que te habita, e, um dia, quem sabe, ainda dizer ao psicólogo que “talvez tenha sido por causa da minha mãe”, isso tudo é muito real. É de uma realidade sem fim. E não acho que os tempos estejam tão modernos assim, por mais que pareçam. A cobrança que aflige é a cobrança interior, do que a gente se impõe ser na vida; da imagem que a gente acha que tem que passar para o filho, do resultado que temos que dar ao patrão, do que a gente se exige demais. E isso é bem velho!

Talvez o que a gente precisa aprender seja que o equilíbrio do feminino e da maternidade real, nos tempos de hoje, está nos chamando a ver que ainda somos filhas, crianças perante a vida, tão frágeis no tempo. Mas com a capacidade de gerar outra vida, incentivar, oferecer o nosso melhor; e, nos dias em que não sabemos o que fazer para dar conta de tanta coisa, parar, respirar e admitir que não daremos conta nem hoje nem amanhã. E nos dias em que estamos empoderadas e resolvidas, talvez economizar um pouco na euforia para não faltar na tristeza. Se conectar consigo e encontrar um ritmo que se adeque ao que você pode, sem se autoflagelar, sem cultivar culpas demais.

A natureza vive um dia de cada vez. Aprender a aceitar o que é, do jeito que é, no dia que é. Sem perder a fé de querer o melhor, vislumbrando mais constância na calma adquirida. Para mim, uma boa forma de estar no mundo é conhecer o feminino, me permitir ser frágil, me permitir não ser perfeita ainda, me permitir que há o tempo das coisas que eu não posso atropelar, não deixar o mundo moderno exigir de mim o que não considero importante.

Ser única, assim como cada um é, ser uma cantora que ama o que faz, mas sabendo que às vezes o trabalho tem que esperar um pouco, ser uma mãe que ama e ponto. Eu amo meus filhos e sou grata à vida por tanto! Mas às vezes não sou o melhor que ainda posso ser, e não vou morrer por isso. Deus me livre dos meus filhos ficarem sem essa mãe que só eu posso ser. E cozinho muito mal, me estresseo, tenho TPM.  Sou um concentrado de sentimentos, e se eu compreender dez por cento deles estarei feliz.

Sei que o amor está aqui, do jeito que posso, na quantia que dá. O mais é invenção que não vem ao caso, nem ao acaso. É meu apenas o que eu sou. E, sem tudo o que vivo, eu não seria esta mulher que tanto tem aprendido vagarosamente a viver melhor. Agora, o equilíbrio absoluto, quem souber que me ensine também. Eu ainda não sei, e no meu desenho ele talvez seja muito diferente do que pode ser para outra pessoa. E isso já aprendi a aceitar. Eu tenho um filho que não gosta de feijão, e eu acho feijão fundamental na minha vida. Eu respeito a mim e respeito a ele, isso me traz um aprendizado sobre muita coisa. Se eu estou aprendendo e praticando o que aprendo, talvez já seja algum equilíbrio em que eu posso confiar.

Flavia Wenceslau

Flavia Wenceslau

Mulher, mãe, paraibana radicada na Bahia, artista na alma e cantora por vocação. No dia 6 de julho realiza o workshop “As Sete Notas de Um Caminho • vida, música e propósito” e no dia 7 faz show no Festival Ilumina, na Chapada dos Veadeiros.

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