Carreira e pressão dos pais
Cisne Negro traz reflexão sobre influências na escolha profissional
Por Claudia Chaves
Muitas vezes ouvimos essa frase quando se refere a uma possível herança genética de talento profissional: “filho de peixe, peixinho é”. E ao mesmo tempo, vemos que os pais preocupados, com razão, com o futuro dos filhos, pretendem fazer deles (e com eles) aquilo que gostariam de ter vivido. O filme Cisne Negro retrata essa situação ao mostrar uma jovem e talentosa bailarina que não consegue se desempenhar bem – nem técnica,nem psicologicamente – quando é escolhida para protagonizar a dupla dos cisnes encantados no ballet Lago dos Cisnes.
“Eu só queria ser perfeita”, diz Nina, a personagem, cujo desempenho de Natalie Portman a coloca entre as candidatas ao Oscar de melhor atriz. Num rápido momento do filme, durante um pequeno diálogo entre mãe e filha, vê-se que a mãe,aparentemente uma bailarina aposentada, quer ver a filha chegar aonde jamais conseguiu chegar.
As dualidades do filme, amplamente exploradas pela crítica especializada, levantam outra dualidade fundamental: quando os pais querem ver os filhos triunfarem (o termo é esse mesmo, triunfar), onde não conseguiram. Assim, quando Nina diz que quer ser perfeita, ela quer ser perfeita para mãe.
Escolha orientada
A escolha profissional é exigida de todos nós desde que nascemos, praticamente. É motivo de risadas, naquele almoço de domingo, de família completa, quando perguntam ao João o que ele quer ser. E vem a natural resposta: “Quelo ser ajudante do Homem Alanha”. Risinhos abafados, olhares atravessados para a mãe… “Como vai ser com essa coitada?”. Ou então se a criança diz médico, a família já vê ali o futuro Pitanguy. Dr.House como modelo, nem pensar!
Uma vez perguntaram ao meu filho Chico, quando tinha 3 anos, o que ele ia ser quando crescesse. E ele respondeu “Quero ser entrevista”. As pessoas não entenderam e acharam que ele queria ser famoso. Não, ele queria ser repórter de vídeo. Hoje Chico é diretor de vídeo. Não é entrevista, mas quase…
A escolha profissional dos filhos deve ser orientada, não a um amplo conceito de felicidade, mas sobretudo à capacidade do que o filho é capaz de fazer. Nem todos são primeiros alunos e querem passar o resto da vida estudando, como devem ser aqueles que escolhem a medicina ou pesquisa.Nem todos têm habilidades artísticas ou desportivas. Mas todos têm uma área em que se despenham melhor do que em outra.
Testes vocacionais ajudam?
Sim, ajudam muito. Mas o que ajuda mesmo é o pai e a mãe entenderem que a pessoinha não é uma pessoinha. É uma PESSOA, com todas as letras em maiúscula, com características particulares, determinação, vontade e talentos que lhe são próprios. Devemos sempre observar o que o filho gosta de fazer. Ou melhor: ver o que ele faz de melhor e premiá-lo sempre que se desempenhar bem em alguma coisa. Não premiá-lo porque fez bem algo que solicitamos.
Devemos sempre observar o que o filho gosta de fazer. Ou melhor: ver o que ele faz de melhor e premiá-lo sempre que se desempenhar bem em alguma coisa. Não premiá-lo porque fez bem algo que solicitamos.
Tenho um aluno que, apesar do desempenho escolar médio, é excelente em mecânica. Inventa coisas, monta motores e foi a estrela na Feira de Ciências da escola. Esse meu aluno deseja ser piloto de avião ou mecânico em equipes de Fórmula 1. Vai conseguir. É será mais feliz do que ser for presidente de multinacional.
A perfeição que Nina procura no filme estava mais na responsabilidade que lhe foi imposta desde menina do que aquilo que o próprio diretor da companhia de ballet lhe exigia. Nina é uma personagem extraordinária e pode ser encontrada em cada esquina. As pessoas podem não chegar ao extremo como ela, mas somatizam. Engordam, têm asma, úlceras, síndrome do pânico.
Entender que a escolha é de outro é uma das coisas mais difíceis na relação pais e filho. Mas entender que o filho deve ser visto e elogiado pelos seus próprios talentos é o fundamental. Elogie seu filho sempre. Não apenas quando aparecer com uma nota alta na escola. Elogie quando ele quiser ser ajudante do homem aranha. Ele está dizendo que quer ser bom, direito, ético e salvar vidas. É essa não é a mais importante tarefa de cada um de nós?
Imagem: Divulgação
Doutora pela PUC-RJ, professora de Técnicas de Texto e Atendimento Publicitário da PUC-Rio, professora de Gestão de Carreira do IBMEC. Atualmente desenvolve atividades de mentoring e aconselhamento de negócios, carreira e de vida.
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