A menarca da minha filha: depoimento de uma mãe
Terapeuta conta sobre a primeira menstruação e como enfrentou os sintomas da puberdade da filha
Por Bianca Senna
Quando comecei a perceber os sintomas da puberdade chegando para minha filha, dei início a uma pesquisa sobre esse rito de passagem para me preparar para as mudanças que estavam por vir. Quando li a palavra menarca, me surpreendi, pois não lembrava de ter ouvido na minha adolescência.
Descobri que menarca significa “começo do mês” ou “começo da Lua”, já que a palavra “mês” deriva de mens, que, por sua vez, tem origem no latim e tinha ligação com o mês lunar. Em alguns idiomas, percebemos melhor essa derivação como no inglês month e moon.
Então menstruação tem a ver com a Lua? Sim, estão diretamente ligadas!
O começo da menstruação é um marco na transformação da menina em mulher, uma fase de transição, cheia de mudanças.
Percebi, então, que precisava estudar mais a fundo meu ciclo menstrual para poder ensinar para ela o que estava por vir.
Aceitar a natureza feminina traz equilíbrio
Antes de iniciar esses estudos, ser cíclica me incomodava. Não entendia porque em uma semana me sentia tão disposta e na seguinte, parecia outra pessoa. Ao entender o movimento da natureza, passei a olhar para mim com mais compreensão.
“Se uma mulher aprende a compreender seu ciclo, a aceitar suas mudanças e tornar-se fiel à sua própria natureza, ela pode obter o equilíbrio de seu ciclo”, destaca Miranda Gray, autora do livro Lua Vermelha.
A compreensão do meu ciclo menstrual me ajudou a orientar minha filha a entender a chegada da sua menarca.
Ouvi tantas vezes comentários negativos de outras mães. “Que dó, tão novinha e já menstruada”, “virou moça tão rápido, que pena”. Sem contar os comentários negativos em relação ao sangue menstrual, sendo tratado com aversão e como sujeira.
O sangue menstrual é uma resposta do corpo, após se preparar para gerar uma vida. Após a ovulação, se não há fecundação, o útero libera o sangue, para então voltar a ovular e seguir o ciclo da natureza feminina.
Percebi como os tabus sobre esse assunto interferem na maneira que as meninas lidam com o feminino. Comecei a mudar o meu olhar e passei a compartilhar minhas descobertas com ela. Também fiquei atenta aos comentários feitos por outras pessoas ao lado dela.
Anna Salvia Ribera, psicóloga especializada em saúde sexual e reprodutiva, assina o guia didático do livro “O Tesouro de Lilith”. Ela destaca:
A celebração da menarca deveria servir para ampliar esse conhecimento e tomá-lo consciente agora que a menina já o vive no seu próprio corpo. Deveria ser simplesmente uma lembrança festiva, na qual se acompanha com alegria e confiança a mudança da etapa vital dessa menina.
A chegada da menarca
Quando minha filha menstruou, senti grande mudança no seu jeito de ser e de ver o mundo. Assim que aconteceu, ela arquivou todas as fotos da sua conta do Instagram e passou a se comportar de forma diferente.
Aos poucos, fui notando que sua natureza não era mais linear como na infância, e, sim, cíclica. Passei a perceber transformações intensas nas emoções e nos sentimentos dela.
No início, o ciclo da menarca não segue os 28 dias como geralmente ocorre com as mulheres. Às vezes, as meninas ficam mais de 40 dias sem menstruar e vi como é importante notar essas mudanças de comportamento nesse início.
Observei como ela estava lidando com as mudanças físicas e conversei sobre o que vivi. Contei como foi a minha menarca e como me sentia.
Também conversamos sobre a Lua e as suas fases e dei a ideia de fazer um diário e registrar o que sentia.
Logo no início, incentivei o uso dos absorventes de pano. Além de serem ecológicos e mais econômicos, é uma maneira de ter contato com o sangue menstrual ao lavá-los no banho.
Senti como é importante desmistificar que o sangue é sujo por uma simples razão: não é.
Em alguns momentos, ela demonstrou resistência, especialmente porque a maioria de suas amigas não compartilhavam dessas ideias.
Percebi que me chatear ou insistir não era o melhor caminho, então procurei estar mais perto, respeitando o espaço dela. O olhar atento e a escuta sincera, sem julgamentos e pré-conceitos, são fundamentais nesse momento.
Formada em Comunicação pela PUC-RJ, é produtora de conteúdo do Personare e terapeuta integrativa, com formação em Reiki. Atualmente faz pós-graduação em Arte Terapia. É co-fundadora da Lua Luz, que desenvolve produtos direcionados ao autocuidado e atendimentos que buscam a conexão com o feminino e o bem estar familiar.
Saiba mais sobre mim